quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Música maranhense exaltada em sarau

Evento com a Orquestra de Câmara da Escola de Música do Maranhão Lilah Lisboa de Araujo terá peças de compositores maranhenses dos séculos XIX e XX.
 
Carla Melo
 
O Convento das Mercês será palco hoje, às 19h30, para o sarau que reunirá no repertório músicas de compositores maranhenses dos séculos XIX e XX, bem como poesias escritas nesta época. O concerto será a cargo da Orquestra de Câmara da Escola de Música do Maranhão Lilah Lisboa de Araujo (Emem), sob a regência do músico e pesquisador Joaquim Santos. As poesias serão recitadas pelo ator Charles Melo.
Formada por alunos e ex-alunos da Emem, a orquestra terá a participação dos músicos convidados Mábio Duarte (violino), Kayami Satomi (violoncelo) e Lisianne Nina (percussão). "A orquestra tem um repertório tradicional clássico da cultura europeia, mas tem também a finalidade de levar e promover a música do Maranhão dos séculos XIX e XX, que está esquecida", diz Joaquim Santos, que é especialista em musicologia, arranjador e compositor de trilha sonora para cinema, já tendo sido premiado em mais de 10 festivais de cinema no Brasil. O evento integra a programação do I Encontro de Música de Câmara que acontece em São Luís desde o início deste mês e é alusivo ao Dia de Santa Cecília, padroeira da música.
Integram o programa do concerto composições de Antonio Rayol, Inácio Cunha, Catulo da Paixão Cearense e Pedro Gromwell dos Reis - cujas obras têm transcrição e edição de Joaquim Santos - e ainda Elpídio Pereira e Alexandre dos Reis Rayol. Para realizar a pesquisa, o professor tem se debruçado sobre o acervo deixado pelo padre João Mohana e que hoje está guardado no Arquivo Público. Do acervo constam mais de 1000 composições de autores diversos, algumas incompletas.
A pretensão de Joaquim Santos é publicar, até o fim do ano, a obra Ladainha Pequena, de Antonio Rayol. "É uma obra que tem um valor significativo e está presente em momentos como os batizados de bumbas meu boi e festejos de São Benedito em todo o Maranhão", diz Santos. O professor fará a reconstituição da obra para concerto, já que a versão original é para tenor e orquestra. "Vou reconstruir a melodia e o texto que foram perdidos", completa Santos. Para fazer esta reconstituição, o pesquisador se baseará na oralidade popular a partir da análise musicológica no contexto orquestral.
Para Joaquim Santos, um dos diferenciais que marcam as trajetórias dos compositores dos séculos XIX e XX é o fato de que eles transitavam pelo erudito e popular com facilidade e certa frequência. "A maioria das composições são sacras, como eram em toda a Europa, mas aqui eles compunham também polcas, valsas, marchas, enfim, músicas de salão", explica Santos.
O professor cita como exemplo o compositor Pedro Gromwell, que organizava grupos de músicos para tocar a bordo dos navios da Loide Brasileiro e Companhia Nacional de Navegação Costeira vindos de Belém (PA) em direção ao Rio de Janeiro com escala em São Luís, bem como moletos para procissões da Semana Santa. "Para estes compositores, a música folclórica e a erudita andavam paralelas e, algumas vezes, juntas", diz Joaquim Santos.

Compositores - Quem for ao Convento das Mercês ouvirá músicas como Pastorinhas e Serenata Brasileira, de Antonio Rayol. Rayol nasceu em 1863, faleceu no dia 21 de novembro de 1904. Em 1901, dirigiu a primeira escola de música da capital.
São de autoria de Antonio Rayol o Hino do Maranhão, Hino Abolicionista e Ladainha Pequena; além de Canção do Exílio (a partir do poema de Gonçalves Dias) e Io Non Vi Posso Amar.
Já Inácio Cunha nasceu em 1871 e faleceu em 1955. Era violinista, professor e compositor. Fez parte da Sociedade Musical Maranhense e da Escola de Belas Artes, fundada em São Luís na década de 1920. Destacou-se como compositor de lundus, valsas e polcas e atuou nas orquestras de bordo tocando em navios. Em São Luís foi também maestro e instrumentista.
Em parceria com compositores como Joaquim Callado, Anacleto de Medeiros, Pedro de Alcântara e João Pernambuco, Catulo da Paixão Cearense assinou obras como Flor Amorosa, Terna Saudade, Ontem ao luar e Luar do sertão. Nascido em São Luís em 8 de outubro de 1863, morreu em 10 de maio de 1946. Frequentou o Palácio do Catete, no Rio de janeiro e, com seu violão, emocionou com sua arte, abrindo novos caminhos para a música popular brasileira.
De Elpídio Pereira, o público ouvirá O Lenço. Natural do município de Caxias, nasceu em 16 de outubro de 1872. Foi violinista, compositor e trabalhou no consulado geral do Brasil em Paris e Londres. O caxiense iniciou seus estudos musicais com professores de banda de sua cidade natal e depois em Lisboa e Paris. Compôs muitas obras entre as quais a ópera Cabalar, que não chegou a ser executada em sua totalidade.
Irmão do tenor e compositor Antonio Rayol, Alexandre dos Reis Rayol era violoncelista, barítono e compositor. Há poucos registros sobre a vida do maranhense, que morava em Manaus. De sua autoria, será executada a obra Seus Olhos (com letra de Gonçalves Dias).
De Pedro Gromwell, compositor que assinou obras sacras, clássicas e folclóricas para bandas e orquestras, será executada Batuque Cabalístico. Ludovicense que nasceu em 1887, era violinista, compositor e regente. Foi professor de música em instituições de São Luís a exemplo da Escola de Aprendizes Artífices. Regeu diferentes orquestras e criou uma orquestra infantil no Teatro Arthur Azevedo. Adaptou Marcha Triunfal para as bandas da capital nas comemorações dos 350 anos de São Luís.

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