sexta-feira, 18 de abril de 2014

Louzeiro repassa suas memórias

Louzeiro repassa suas memórias


O escritor maranhense José Louzeiro, autor de sucessos como Pixote - A Lei do Mais Fraco e Aracelli, meu amor, se dedica a escrever um livro.

Bruna Castelo Branco
Editora do Alternativo

Foto: Divulgação
O escritor maranhense José Louzeiro

É em um apartamento localizado em um prédio antigo no Centro do Rio de Janeiro, perto da Igreja do São Francisco, entre o badalar dos sinos e a agitação natural de uma grande cidade, que o escritor e jornalista maranhense José Louzeiro, 81 anos, dedica parte do seu tempo a uma nova missão literária: escrever o seu livro de memórias.
A obra ainda não tem previsão de lançamento e é feita sem pressa, pois o escritor, autor de mais de 50 livros - com destaque a obras importantes como Pixote-A Lei do Mais Fraco, Aracelli, meu amor e a biografia Cantando para não enlouquecer, de Elza Soares -, admite ser um exercício complicado o ato de escrever suas memórias. "É difícil falar de mim. Acho que vou escrever no livro sobre o que eu gostaria de fazer e não fiz. Estou escrevendo sem pressa", brinca.
No apartamento em que mora e onde escreve suas lembranças, vários elementos trazem referências cinematográficas e literárias aos visitantes e ajudam a contar a trajetória do escritor. Quadros com cartazes dos filmes Lúcio Flávio - o passageiro da agonia, O Homem da Capa Preta, Pixote-A Lei do Mais Fraco (Louzeiro assina o roteiro das obras), retratos do autor pintados por vários artistas plásticos, incluindo o amigo maranhense Jesus Santos, além de diversos livros de conterrâneos (pude observar obras de Luis Augusto Cassas e Bruno Azevêdo), além de fotografias em um mural onde está afixada também uma cópia de um texto dele publicado no jornal O Estado. "O caderno [de cultura] de vocês está muito bonito", diz, em referência ao caderno Alternativo.

Visita - Nesse cenário com referências tão particulares, o escritor, pioneiro no romance-reportagem no Brasil, recebeu O Estado, às 10h30 de uma quinta-feira, não para uma entrevista, mas para um bate-papo, como quem recebe um amigo.
Logo na portaria do prédio, à espera da equipe estava Ednalva Tavares, agente literária do mestre e companheira dele nessa e em outras vidas. Bem-humorado, ele nos recebe com um: "Desculpa não receber você de pé", em referência à perda do pé esquerdo e da perna direita em decorrência de complicações do diabetes.
Como esperado, a conversa não é marcada por formalidades. Sobre a biografia, Louzeiro adiantou pouca coisa, mas contou histórias da carreira como jornalista tanto no Maranhão quanto no Rio de Janeiro, relembrando alguns personagens importantes, entre eles, o jornalista Nonnato Masson. "Ele me ajudou muito quando eu comecei a minha carreira no jornalismo policial", recorda.
Além do jornalismo e as perseguições que sofreu na época da Ditadura Militar e que o fez trocar São Luís pelo Rio de Janeiro, outros assuntos foram surgindo com uma naturalidade de uma conversa descontraída regada a xícaras de café. "Eu adoro café, se deixar eu tomo o dia todo", comenta, para depois voltar a falar sobre as perseguições que sofreu no Governo de Vitorino Freire. “Desse aí eu faço questão de falar. No meu livro eu deito e rolo”, adianta.
Histórias dos pais, infância, carreira como roteirista cinematográfico e a repercussão do filme Lúcio Flávio - o passageiro da agonia, lançado em 1976, com roteiro dele, direção de Hector Babenco e estrelado pelo então jovem ator Reginaldo Faria - que se despia da imagem de galã para interpretar o ladrão de banco, famoso nos anos 1970 e que foi perseguido pelo esquadrão da morte da Polícia - são alguns dos assuntos do livro. "Foi uma fila para assistir à estreia do filme. Na época fui muito criticado, me acusaram de tratar o Lúcio Flávio como herói e não dar espaço para quem o prendeu. O Lúcio Flávio era um personagem muito mais interessante", conta.
Sobre a produção do cinema no Brasil atual, o escritor e roteirista tem a mesma opinião de Hector Babenco, parceiro dele tanto em Lúcio Flávio como em Pixote. Para eles, a produção de cinema esbarra tanto na falta de patrocínio quanto na ausência de salas para exibição. "A gente faz um filme hoje e ele não vai passar nas salas comerciais. São escassos os bons cinemas", avalia.
Ainda sobre cinema, demonstra curiosidade sobre as novas produções no segmento desenvolvidas no Maranhão. Em especial, gostaria de assistir ao filme O Exercício do Caos, lançado ano passado pelo cineasta Frederico Machado e planeja desenvolver um curso de roteiro em São Luís, um projeto antigo, mas que ainda não aconteceu por falta de parceiros.
E como toda boa conversa passa rápido, com o badalar do sino da Igreja anunciando o meio-dia, nos despedimos do Mestre, deixando-o relembrar suas memórias e torcendo para que esse livro, reunindo tão boas histórias, seja logo lançado.

Mais


No ano passado, foram relançados pela Editora Prumo dois livros do autor. O primeiro foi Aracelli, meu amor, lançado em 1976 e que relata de forma romanceada a morte da menina Aracelli Cabrera Crespo, assassinada por jovens da classe média de Vitória (ES), e o segundo foi Os Amores da Pantera, lançado originalmente em 1982, que narra o assassinato de uma bela socialite brasileira e também mostra um pouco do comportamento da sociedade brasileira nos anos 1970.

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