sábado, 25 de outubro de 2014

Estrangeiros ganham a vida como artistas de rua em São Luís

A presença de engolidores de fogo e malabaristas já se tornou comum em alguns pontos da cidade.

Yane Botelho
Da equipe de O Estado
 
Foto: De Jesus
Estrangeiros fazem malabarismo com tochas de fogo
A luz vermelha do semáforo é o sinal de largada para o início do espetáculo. Malabaristas, pernas de pau, engolidores de fogo: esses são alguns dos ofícios escolhidos pelos imigrantes latino-americanos que ganham a vida como artistas de rua em São Luís. Eles sobrevivem da cultura, e seus relatos são marcados pela vontade de viajar, mas também pela precariedade, por baixos rendimentos e por vezes até pela ilegalidade.
Vivendo entre um sinal aberto e outro, desenhando traços com fogo e malabares no ar, o casal de argentinos Canela Esposito e Matias Espindola, ambos com 22 anos, ensina que é possível estabelecer diferentes parâmetros de felicidade. Há oito meses, eles deixaram sua casa, em Córdoba (na Argentina), e partiram em viagem pelo Brasil, levando a filha de 2 anos.
No intervalo entre uma apresentação e outra, no trânsito caótico, os abraços, as brincadeiras e o sorriso da família deixam claro que a arte de rua foi uma escolha de razão e coração. Para eles, não há motivos para se preocupar. Segundo Canela Esposito, é muito comum encontrar pessoas que questionem e se interessem pelo seu estilo de vida. "Para essas pessoas, segurança é ter um emprego com salário fixo no fim do mês e uma casa própria. Mas eu enxergo isso como um problema. Você se torna um tipo de escravo. Não tem muita liberdade, não é dono de si mesmo. Fica preocupado com o patrão, com o trabalho e com compromissos que, se questionados, revelam-se desnecessários", analisa.
Na Argentina, Canela Esposito e Matias Espindola eram estudantes e moravam com seus familiares. Quando decidiram partir, houve preocupação dos pais. "No início, eles sofriam muito. Ficavam preocupados. Mas depois perceberam que não é uma vida perigosa e sim possível e interessante. Viajamos com nossa filha. Trabalhamos por apenas duas horas por dia. Ela sempre está conosco. Não há proteção maior que essa", acredita Canela Esposito.
O casal informa estar legalmente no Brasil, mas não sabe ao certo quanto tempo ficará no país. Antes de chegar a São Luís, eles estiveram em Santarém, no interior do Pará. Longe de casa, procuram abrigos em albergues e pousadas. Descansam, leem, conversam, passeiam, fazem amigos, cuidam de alguns afazeres como lavar roupa e costumam trabalhar duas horas por dia, no horário de pico, fazendo apresentações no trânsito. "Costumamos nos juntar a outros viajantes, conhecer pessoas, fazer amigos e formar novas famílias temporárias. Isso torna a viagem mais segura e prazerosa", diz Matias Espindola.

Legalidade


O tempo de permanência de estrangeiros no Brasil, em viagem de turismo ou de negócios, é de 90 dias, concedidos na entrada, com a possibilidade de prorrogação de mais 90, totalizando o máximo de 180 dias por ano. Muitos viajantes, porém, informam já ter ultrapassado esse prazo. "Entrei no país como turista, mas já ultrapassei o prazo de permanência. Estou há sete meses no Brasil. Poderia ter esperado outro tipo de visto, para ficar por dois anos, por causa da minha nacionalidade. Mas é mais complicado. No Brasil não costuma haver muita repressão contra estrangeiros. Por isso não há preocupação dos viajantes", comenta um viajante chileno, que não quis se identificar.
Segundo as leis brasileiras, é vedado o exercício de atividade remunerada no Brasil aos turistas estrangeiros. No entanto, o delegado de Imigração da Polícia Federal (PF), Luís André Lima Almeida, explica que ao tipo de atividade exercida pelos artistas de rua e artesãos geralmente é atribuído um caráter cultural, dificilmente enquadrado como trabalho remunerado. "São atividades culturais, sem vínculo empregatício", diz.

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